RESENHA RRR: Revolta, Rebelião e Revolução.


Deborah Lopes e Luana Coelho






RRR: Revolta, Rebelião e Revolução é um filme indiano de ação dramática dirigido por S. S. Rajamouli que se passa na índia nos anos 1920, em plenos anos de chumbos da colonização britânica. O diretor do filme, S. S. Rajamouli é um cineasta conhecido por dirigir filmes grandiosos e visualmente impressionantes, além de seus enredos e narrativas emocionantes. Com duração de 3h05, o drama conta a história de Komaran Bheem e Alluri Sitarama Raju, os dois protagonistas inspirados em revolucionários indianos reais que foram de suma importância na luta contra o domínio colonial britânico.
Bheem é o líder e protetor de uma tribo que está em missão de resgate após uma garota de sua tribo ser tirada da mãe sendo sequestrada pela elite inglesa. Já Raju é um policial determinado que é preterido por seus superiores e aparenta estar traindo seu povo, mesmo assim ele faz o possível e o impossível para alcançar seus objetivos. O caminho de Bheem e Raju se cruzam sem que eles saibam que eles têm objetivos completamente diferentes. Enquanto Bheem está lutando contra o império britânico para resgatar Mali, Raju está em busca de descobrir e prender o guerreiro que está tentando libertar a pequena Mali para ganhar a confiança de seus líderes, que é Bheem. Os dois se conhecem ao se unirem para o resgate de um menino que está muito próximo a uma ponte desabando, rodeado de fogo. A partir desse momento Bheem e Raju se tornam melhores amigos, o que torna a trama mais interessante. Os telespectadores ficam na ansiedade de quando eles irão descobrir quando um irá descobrir o segredo do outro.
Além de todo drama e ação apresentado no filme, é possível classificá-lo, também, como um musical, já que o filme conta com pelo menos duas cenas que são apresentadas e narradas através da música Além disso vale salientar que a canção "Naatu, Naatu", do compositor indiano M. M. Keeravani, que serve de trilha sonora para o filme superou sucessos de Taylor Swift, Rihanna e Lady Gaga e venceu o Globo de Ouro 2023 na categoria melhor música original.E é através da primeira grande cena musical que o diretor S. S. Rajamouli faz uma clara sinalização de que RRR é um filme político capaz de nos mobilizar e fazer com que nós nos interessemos pela temática. Ao longo do filme é possível ver que S. S. Rajamouli usa os personagens britânicos apenas como uma forma de representação dos anos imperialistas, e isso fica mais claro quando nessa primeira grande cena musical Bheem e Raju são humilhados na grande festa dos britânicos, no palacete em que os indianos são tratados como subalternos e/ou cidadãos de segunda categoria. E é exatamente por meio da dança que os protagonistas subvertem a lógica de poder atribuída pelas armas, logo colocando os invasores no chão em virtude da fadiga. Os protagonistas cantam e dançam como se fosse uma competição, cansando e derrotando os britânicos apenas com o poder da dança.
Apesar da sua longa duração, é admirável que o filme prenda o telespectador por 3h. Basta dizer que o filme em sua primeira parte conta com uma cena onde um único soldado atravessa uma multidão com milhares de figurantes, a pé, a fim de prender um único homem. Apresenta também nessa primeira parte a luta de um homem contra um tigre e o resgate de uma criança em um lago em chamas. É possível, para quem tem o hábito de assisti-los, ver que RRR lembra filmes de época com temática “brucutus” dos filmes dos anos 1980, mas apesar disso fica evidente que há uma troca de papéis do que a maioria das pessoas estão acostumadas a ver. É possível identificar um tempero anticolonialista, principalmente por colocar o homem indiano na figura de herói que toma conta da maior parte do cenário e resolve tudo sozinho sem um personagem ocidental como salvador.
O sucesso do filme é um grande salto para o cinema indiano. É um espetáculo que se coloca contra o império britânico, mas é importante prestar atenção ao filme como um todo. É necessário dar atenção ao destaque cultural indiano, humanidade do povo e suas particularidades. A importância do filme atingir esse grande sucesso é fundamental para a popularização da cultura do país, que vai muito além da pequena parte representada no filme, conhecimento dos idiomas e crenças. Dito isso, é importante dizer que ao longo deste trabalho foi percebido que apesar do sucesso de bilheteria do filme, mostra-se limitado o número de resenhas e informações sobre o filme. É evidente que isso é um reflexo da cultura cineasta ser bastante influenciada por referências ocidentais, trazendo então um possível debate sobre o conhecimento empírico presente e como ele é influenciado pelo capitalismo.
Nos últimos anos Hollywood observa que os filmes de outros países e culturas, estão se popularizando e trazendo debates diversos para o meio cinematográfico, por exemplo, “Parasita” e “Nada de novo no front”, foram filmes que ganharam visibilidade de crítica e de popularidade, mostra que é preciso que seja aberto o monopólio de Hollywood ao cinema mundial, e assim permita que outras histórias sejam contadas para todos e não apenas um determinada parcela tenha a oportunidade de conhecer essas narrativas. 
Ao término das 3h de filme podemos afirmar que, apesar das suas histórias mirabolantes, ao ponto do telespectador dizer: “Impossível, não tem como”, o sentimento que fica é que é um filme revolucionário, que passa a força do povo indiano através da música, dança e paz de espírito. Acredito que comparado a cultura brasileira de um país colonizado que ainda sofre com as consequências da escravidão e do racismo, essa é uma forma de repassar a indignação e luta do povo indiano sem que eles sejam vistos com agressivos por lutarem por seus direitos.


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